Um destes dias veio parar-me às mãos uma revista, cujo odor me causa uma certa alergia sempre que a abro, no entanto o seu conteúdo é demasiado precioso e a questão do pó que lá se entranhou desde 1952 torna-se ultrapassável. Trata-se da edição de Dezembro de ‘O Mundo Ilustrado’.
São vários os textos que poderia ter escolhido para trazer até este espaço, destaco este em particular para entrarmos no Outono com o Espírito dos Homens notáveis que «têm, com efeito, o poder de comunicar às menores coisas um interesse especial», de acordo com Luís de Oliveira Guimarães:
São vários os textos que poderia ter escolhido para trazer até este espaço, destaco este em particular para entrarmos no Outono com o Espírito dos Homens notáveis que «têm, com efeito, o poder de comunicar às menores coisas um interesse especial», de acordo com Luís de Oliveira Guimarães:
Havia no Porto, aí por 1850, uma Brasileira que zombava de Camilo. O romancista soube do caso e mandou-lhe uns versos picantes. A rapariga leu os versos; corou até à raiz dos cabelos; chamou um irmão que tinha, um pouco mais velho do que ela, e disse-lhe que procurasse Camilo e lhe pedisse explicações. O rapaz assim fez. Procurou Camilo, num dos cafés que o escritor costumava frequentar e, após uma rápida troca de palavras, ia a despedir-lhe um soco, quando Camilo, travando-lhe o braço, lhe disse com o seu melhor sorriso:
– Seja prudente. O senhor é fraquíssimo, etéreo, quase gasoso. Se eu lhe desse um ligeiro bofetão, o senhor ia parar à Foz. Por consequência sente-se aí. O que quer tomar?
E, obrigando o rapaz a sentar-se à mesa, embebedou-o. Depois pegou-lhe ao colo e levou-o a casa. A irmã do rapaz estava à janela. Camilo ao vê-la, pôs o rapaz no chão e, tirando rasgadamente o chapéu à rapariga, exclamou:
– Seu mano não se pode ter nas pernas porque se encontra como um cacho. Mas ainda tem forças para, em meu nome, dar a Vossa Senhoria, o beijo da Paz!
Enfiou o chapéu, virou costas e retirou-se.
– Seja prudente. O senhor é fraquíssimo, etéreo, quase gasoso. Se eu lhe desse um ligeiro bofetão, o senhor ia parar à Foz. Por consequência sente-se aí. O que quer tomar?
E, obrigando o rapaz a sentar-se à mesa, embebedou-o. Depois pegou-lhe ao colo e levou-o a casa. A irmã do rapaz estava à janela. Camilo ao vê-la, pôs o rapaz no chão e, tirando rasgadamente o chapéu à rapariga, exclamou:
– Seu mano não se pode ter nas pernas porque se encontra como um cacho. Mas ainda tem forças para, em meu nome, dar a Vossa Senhoria, o beijo da Paz!
Enfiou o chapéu, virou costas e retirou-se.
Luís de Oliveira Guimarães
In Revista O Mundo Ilustrado, Dezembro de 1952
2 comentários:
História bastante engraçada, sim senhor!
eheheh
eu adoro estas "bofetadas" de luva branca!
beijos
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