quarta-feira, 1 de julho de 2009

Viagens


Entrou em casa ao entardecer e colocou os óculos de sol no baú acobreado, destinado à sua imensa colecção de lunetas escuras com hastes. Ultimamente preferia o modelo dourado, que lhe dava um ar sofisticado, opinião partilhada com a sua assistente de imagem.

Sentou-se no sofá à procura da melhor posição para se ver livre daquela dor de cabeça, consequência de mais um dia de trabalho a aturar os seus demónios e as suas constantes brincadeiras e discussões, entre decisões desta ou daquela nota ou da introdução de um arranjo musical revolucionário. Uma coisa era garantida, estava orgulhoso do seu estúdio.

Estendeu o braço e serviu-se de um copo de espumante, que estava ali sempre fresco à espera da chegada dele. Ela também devia estar a chegar, a mulher que tinha conhecido numa noite memorável em que os copos de vinho se tornaram mais do que os dedos das mãos, dedos que se perderam na pele macia e irresistível daquela que lhe toldou os sentidos, ao ponto de pedir socorro e afirmar publicamente que estava apaixonado.

Enquanto mantinha estas lembranças bem presentes, levantou-se para procurar o jornal e saiu para o alpendre. As notícias eram más, por isso desejou irradiar de uma vez por todas os males do mundo, enquanto exorcizava os seus próprios males a pensar nas suas viagens.

Mal podia esperar que a noite caísse para partir e continuar a cumprir a sua missão. Naquele dia, em particular, queria cravar os dentes e sugar o sangue daqueles dirigentes que não faziam nada pela cidade. Era uma tarefa árdua vê-los ali, desensanguentados, a pedir misericórdia e a prometerem que se os poupasse, iriam zelar melhor pelos destinos do país. Esqueciam-se depressa das promessas, mesmo assim, acabava por dar-lhes sempre mais uma oportunidade.

Teria sempre o prazer dos seus concertos e das suas palavras murmurantes que eram tão mordazes como os seus afiados dentes. Seria eternamente interventivo na sua figura humana, atrás dos seus úteis óculos de sol. E nas noites que passava sem dormir, só a Lua sabia quem ele era.


Nota: Ganhei!

9 comentários:

Anónimo disse...

Muitos parabéns, é bem merecido!

Anónimo disse...

Muitos parabéns, é bem merecido!

Miss* Duvalle disse...

qual é o premio??

È sbre michael jackson ou pedro abrunhosa?? :)

Jade disse...

Amiga...realmente fenomenal este texto ...sem dúvida merecido o reconhecimento. Parabéns. Estou hiper feliz por ti...

Susn F. disse...

Arion: Obrigada :)

Pretazeta: A imortalidade lol e um livro!

Mais um dia que acaba
e a cidade parece dormir,
da janela vejo a luz que bate no chão
e penso em te possuir.
Noite após noite, há já muito tempo,
saio sem saber para onde vou,
chamo por ti, na sombra das ruas,
mas só a lua sabe quem eu sou.
Lua, lua,
eu quero ver o teu brilhar,
lua, lua, lua,
Eu quero ver o teu sorrir.

Bjinhos

Jade: Ainda bem que gostaste. Veio mesmo a calhar! :)

Carla Ribeiro disse...

Parabéns! Gostei muito do teu texto. :)

vida de vidro disse...

Uau! Isso é o que eu chamo meteres-te na pele do vampiro. Merecido, o prémio. **

Brain disse...

Escrito FANTÁSTICO!
ADOREI!

Prémio MAIS do que merecido!

Um Beijo de Mim

pin gente disse...

muitos parabéns!

eu também gostei.

beijo
luísa