Sentada na Beira da Estrada

QUATRO. Hoje arrastei os pés por caminhos que tão bem conhecia. Estava tão cansada de dar aqueles passos que me sentei mesmo ali, à beira da estrada. Não tinha nenhum mar para observar e o céu estava cinzento, assim como tudo o que me rodeava.

Abri um livro que trazia comigo e deparei-me com um capítulo que me chamou a atenção: ‘Sentada na beira do Mundo’. Fantástico, pensei eu. Poderia ser ‘Sentada na beira da Estrada’, que iria dar ao mesmo.

Tratava-se duma pausa na viagem da personagem. Esta é quase obrigada a parar para reflectir, não só sobre ela própria, mas também sobre os aspectos positivos e negativos da humanidade.

Identifiquei-me, de certa forma, com esta Arabela sentada no limiar; situada num momento de transição entre o mundo conhecido e o desconhecido, para onde está prestes a descer. As árvores e as montanhas, que ela observa daquele lugar, estão invertidas. Estes elementos da Natureza são arquétipos de ascensão, representam a subida em direcção à consciência, aos céus, mas aqui, a realidade está às avessas ou será ela própria que se inverteu? Se ela descer, estará a entrar nos infernos, uma descida simbólica às zonas obscuras do inconsciente.

Parei de ler. À minha frente, os carros estavam parados com as rodas no ar. Fantástico, pensei eu, que nunca soube fazer o pino. De repente, já nada me parecia cinzento. Tinha entrado ‘No Reino do Sonho’.

Texto inspirado no livro 'No Reino do Sonho' da autora Natália Bebiano.

Publicado também n 'O Bar do Ossian'