segunda-feira, 25 de maio de 2009

A mulher mais bonita do mundo



João está pronto para dormir e a mãe, como todas as noites, aconchega-lhe a roupa e dá-lhe um beijo na testa.
- Mãe, porque tens o cabelo tão branco? – perguntou o petiz, passando a mão no cabelo daquela que lhe era tão querida.
A mãe sorriu docemente e afagou-lhe o rosto.
- Lembras-te de quando tiveste varicela?
O pequeno acena que sim com a cabeça, fazendo uma careta ao lembrar-se das altas temperaturas que tivera.
- Passei noites seguidas a olhar por ti, sem dormir, quase sem comer… só tranquilizei quando a febre baixou. Quando olhei para o espelho, o meu cabelo estava assim.
O silêncio pairou no quarto e, sempre sorrindo, a mãe levantou-se para que o menino pudesse dormir.
- Mãe… - sussurrou ele segurando-lhe as mãos, notando que estas eram ásperas e calosas, não muito agradáveis ao tacto – porque tens as mãos tão ásperas?
Mais uma vez a mulher sorriu docemente.
- Sabes, a roupa que tu usas, a comida que tu comes, o teu computador, os teus brinquedos, os teus livros… - calou-se por breves momentos – tudo isso custa dinheiro e para ganhar dinheiro eu tenho de trabalhar… mas trabalhar… - riu-se, aconchegando-lhe os cobertores - … trabalhar faz calos! Vá lá João, já é tarde. Agora tens de dormir!
Mas o João não estava cansado e ainda tinha muitas perguntas para fazer.
- Mãe – insistiu – porque tens tantas rugas? – a mãe suspirou, denotando que estava a ficar cansada mas nunca deixou de sorrir.
- Filho – começou ela sentando-se mais uma vez na beira da cama – Lembras-te de quando estiveste doente? Lembras-te das vezes que caíste? Lembras-te das vezes que choraste por não saberes fazer o trabalho de casa? Lembras-te de tudo isto?
O petiz abanou, com ar surpreso, a cabeça recordando-se de todas as horas difíceis da sua curta vida e como, em todas elas, a sua querida mãe, havia estado presente.
- Pois bem – continuou ela – cada uma destas preocupações resultou numa das rugas que tu vês no meu rosto.
O pequeno calou-se e olhou mais uma vez aquele rosto com ar fatigado, pegou-lhe nas mãos e olhou-as com cuidado, observando por último, o cabelo embranquecido.
- Parece que só te trouxe desgraças… - murmurou ele sentindo as lágrimas vidrarem-lhe os olhos – se calhar, não devia ter nascido…
- Não digas isso! – apressou-se a mãe em interrompê-lo com aquele ar sério que ela tinha sempre que o repreendia por alguma asneira que havia feito – Tu és o meu mundo! a minha razão de existir! Vês esta luz que trago no meu olhar?
O pequenito olhou aqueles olhos profundos e pela primeira vez reparou na luz que irradiavam deles. Pareciam que mil e uma estrela brilhavam lá dentro.
- Ganhei este brilho nos olhos no dia em que descobri que estava grávida. Vês o meu sorriso nos lábios? O teu pai diz que ele parece constante. E é verdade. Porque em todos os momentos, estou a pensar em ti… e a tua existência traz-me uma felicidade que nunca conheci – calou-se acariciando-lhe os cabelos – É verdade que trabalho imenso, mas nunca me senti tão realizada porque sei que tenho um objectivo na vida: ajudar-te a crescer.
O João olhou aquele rosto cansado e os seus lábios abriram-se num riso largo.
- Sabes, mãe? – disse abraçando-a com força – és a mulher mais linda do mundo.



Um post diferente do que é habitual em mim...um conto infantil que escrevi para a pessoa mais importante da minha vida ...

4 comentários:

pamita star disse...

Que bonito. Nem me atrevo a comentar mais.
bj

Anónimo disse...

É quem está lá sempre, mesmo quando o resto do mundo se fecha. Muito bom.

Susn F. disse...

És uma soberba contadora de histórias e a pessoa mais importante da tua vida terá sempre muito orgulho em Ti. :)

Um beijo doce

Andarilhus disse...

voto para que se torne habitual! :)

Fantástico. Uma visão humana, pragmática, exaltada na sua simplicidade, no pintar o amor de mãe e filho.
O brilho no olhar que nos esquecemos de fitar (procurar)...

Parabéns, pelo escrito e pelo sentimento belo que lhe deu origem.