terça-feira, 21 de julho de 2009

Névoa

Sentia-me hipnotizada por aqueles olhos cinzentos-escuros e não hesitei em aceder aos pedidos daquela voz doce e encantadora. Olhei à minha volta, enquanto todas bebiam o chá com olhar pensativo. Os nossos olhos verdes tocavam-se em silêncio. Uma névoa de fumo vermelho foi-se soltando das chávenas até nos abraçar os ombros e levantar-nos das cadeiras. Deixei de ver a feiticeira taxista que segundos antes estava sentada em frente a mim. Deixei de ver a feiticeira enfermeira no meu lado esquerdo e a feiticeira estafeta no meu lado direito.

Olhasse para onde olhasse, só via fumo vermelho e sentia uma força estranha, exterior ao meu corpo, que me empurrava para trás e à qual não conseguia opor resistência. Tentei abrir a boca para proferir as palavras de magia que me traziam segurança em situações de perigo. A boca abriu-se, mas as palavras tinham-se apagado da memória. A força exterior tornou-se tão intensa e difícil de suportar que me deixei levar sem mais resistência. Fechei os olhos. Perdi os sentidos.


Excerto do Conto 'A Ilha Vermelha'

10 comentários:

Jade disse...

Uma ilha encantada aquela que tu criaste...uma ilha vermelha...como a lava que sai dos vulcões. Igualmente bela e intensa. Foi um bom desafio este em que participamos, onde mais uma vez brincaste com as palavras e a imagina~~ao

Anónimo disse...

Gostei em particular da feiticeira taxista. Se há lugar propício à congeminação de encantamentos, esse lugar deve ser um táxi. Beijo!

Susn F. disse...

Jade: Uma ilha vermelha de sangue... :)
Aguardo ver aqui as tuas personagens.
E venha o próximo desafio!

Beijinhos Amiga


Vasco: Ui ui! Quando ela se apercebe da possibilidade de poder ficar presa na ilha e assim deixar de fazer os seus transportes, aí é que são elas! :)
Beijo

pin gente disse...

este é um momento de magia na vida de alguém... levou-me a muitos "momentos"... eheheh

um beijo, susn
luísa

Heduardo Kiesse disse...

por momentos senti-me dentro...
soube bem a viagem...

teu beijo, nosso!

impulsos disse...

Um pedacinho de magia foi o que aqui encontrei.

Bjo

antonior disse...

Curioso...os sonhos de magia e feitiços, parecem feitos de cores que flutuam....para serem agarradas e pintarem a estória.

Até às próximas cores.

P.S.- Deixei resposta ao comentário feito no meu espaço.

Susn F. disse...

Pin gente: Alguém a quem dei vida numa folha de papel :)

Beijinhos para ti luísa e continua a ser levada por 'momentos'


ParadoXos: Uma viagem intensa pelos trilhos do tempo.

e... mais um nosso!


Impulsos: Um pedacinho de magia que as palavras têm o dom de transmitir.

beijinhos

Susn F. disse...

antonior: Agradeço o comentário atento e sensível às cores.
Na realidade não as utilizei como fruto de um acaso. Tal como um pintor se inspira nas suas tonalidades para transmitir algo, neste caso quando escrevi o conto, as cores tinham também a sua simbologia:

O cinzento dos olhos desta feiticeira corresponde ao cinzento dos olhos do Time Traveller, personagem principal do livro 'Time Machine' de H. G. Wells.

Os olhos verdes de todas as outras feiticeiras correspondem à esperança de mudar um destino fatídico.

O vermelho é a cor do sangue que será derramado na luta constante entre as espécies.

antonior disse...

Susn,

Tudo isso é coerente com o facto que aceitamos de que a linguagem não chega para a comunicação mais exigente. É uma ferramenta pouco precisa e perigosa se mal usada. E não é tanto uma questão técnica como de sensibilidade. Não há cursos de escrita criativa que expliquem como colocar nas entrelinhas a comunicação que não está escrita, mas se deve "ler com os sentidos".
Assim, de facto, a psicologia da cor, faz todo o sentido...